Características do Supervisor Pedagógico no contexto de uma supervisão reflexiva e construtiva
Resumo
Introdução. Em Portugal, existem ciclos de avaliação externa das escolas - em número de três, e executados pela Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) - o terceiro ciclo de avaliação começou em maio de 2019, ainda sem estimativa para ser finalizado. Serão alvos deste terceiro ciclo, de avaliação externa, os estabelecimentos públicos portugueses de ensino não superior que possuem um ensino de natureza pública. Um dos princípios apontados pelo documento do IGEC (Inspeção-Geral da Educação e Ciência), que regula essa avaliação (IGEC, 2019), define a “Promoção da supervisão das práticas pedagógicas, nomeadamente em sala de aula e de atividades pelas escolas” (IGEC, p. 2). Por outras palavras, este princípio supõe um avaliador/supervisor, com conotação moral e política da equidade. Há perspetivas de diferentes autores para o conceito de supervisão, resultando assim, vários modelos de Supervisão Pedagógica, podendo, por isso, dizer que o conceito é claramente complexo, mas existe uma convergência de conceptualização no que se relaciona com “interagir, informar, questionar, sugerir, encorajar, avaliar” (Vieira, 1993, p. 33). Num contexto de formação contínua, o supervisor deverá ter uma relação colaborativa com o supervisionado, uma relação de entreajuda, que cria possibilidades de questionamento, análise, reflexão para que de maneira colaborativa, crítica, indagadora, consequentemente, com um espírito de investigação, onde, se encontre soluções, haja inovação, transformação e mudança (Rudduck & Flutter, 2015). O ser reflexivo realça a importância da independência dos professores no processo da supervisão dos pares (Sá, 2017).
Metodologia. Neste contexto, um dos objetivos, deste estudo, é esclarecer quais as características essenciais do Supervisor Pedagógico (SP). Com base nos 57 questionários respondidos por supervisionados (com 4 questões abertas), nas 14 entrevistas focus group com os grupos de estágio de supervisionados, salvaguardando o anonimato. Após a análise de conteúdo (Bardin, 2013), procedeu-se à leitura flutuante. O trabalho de análise e tratamento dos dados foi realizado com o apoio do software de análise de conteúdo em pesquisa qualitativa, webQDA® (Costa, Moreira & de Souza, 2019), através de procedimentos abertos que corresponde a um processo permanente de criação progressiva, no qual a reflexão e análise de dados são triangulados (inquéritos e focus group) rigorosa e constantemente, garantindo a fiabilidade e a consistência. Identificaram-se cinco categorias relativas às características de supervisor: mediador, líder, colaborativo, reflexivo e regulador.
Breve análise e Discussão de Resultados. Do corpus de dados, verificou-se que uma característica do SP que os supervisionados valorizavam é ser mediador, ou seja, evita o conflito, promovendo: aprendizagem do supervisionado; reflexão do supervisionado (Bermúdez-Jaimes & Mendoza-Páez, 2008); intervenção no contexto de conflito. Questionou-se os dados relativamente a correlações entre indicadores que promovem a característica de SP como líder, ou seja, não é líder no sentido da visão hierárquica restrita, é um par entre pares, promovendo: trabalho entre pares; ensino do supervisionado; regulação; ensino e aprendizagem. Esta liderança é realizada recorrendo à formação do supervisionado enquanto processo, ou seja, o supervisionado é interveniente no processo e o supervisor é par no contexto da supervisão. Questionou-se os dados relativamente a correlações entre indicadores que promovem a característica de SP como colaborador, ou seja, é ser colaborativo (Bermúdez-Jaimes & Mendoza-Páez, 2008; Rudduck & Flutter, 2015; Smyth, 1984), promovendo: trabalho entre os pares; interação com o grupo e a escola; compartilhamento dos diferentes saberes em níveis diferentes entre os elementos do grupo, de modo a que seja possível a sua progressão coletiva ou individual e ao ritmo de cada um. O trabalho colaborativo é uma vantagem para um trabalho profícuo e rápido e é evidenciado, na troca de saberes no grupo; na escuta da opinião do grupo de supervisão e na partilha da experiência da sua prática pedagógica e científica. Questionou-se os dados relativamente a correlações entre indicadores que promovem a característica de SP como reflexivo (Rudduck & Flutter, 2015; Alarcão & Tavares, 2010), ou seja, promove: partilha da sua experiência pedagógica e científica; ensino e aprendizagem; troca de saberes entre os elementos do grupo; aprendizagem do supervisionado ao seu ritmo; ensino do supervisionado. O trabalho reflexivo é evidenciado, no ambiente de reflexividade e na promoção da reflexão do supervisionado, ou seja, no pensar antes de agir e porquê. Questionou-se os dados relativamente a correlações entre indicadores que promovem a característica de SP como regulador, ou seja, ensina a aprender. A regulação é uma metodologia ajustada dentro dos normativos aceites pelos regulamentos quer da Escola ou Escola Agrupada, quer das diversas Instituições de Ensino Superior de onde são oriundos os supervisionados, quer, também, do MEC, promovendo: ensino e aprendizagem; observação de modo construtivo; aprendizagem do supervisionado; supervisionado interveniente no processo; supervisão como um processo; trabalho entre pares. Apesar do trabalho regulador poder ser uma desvantagem, torna a supervisão mais equitativa se as regras forem comuns para todos os 57 supervisionados. Esta visão não é consensual em todos os grupos de supervisão, uma vez que nem todos defendem o supervisor como guia dos saberes e regras e promotor da regulação, visível no processo de supervisão e no trabalho de pares (Sá, 2017).
Considerações Finais. Quanto à questão de investigação, neste estudo, os supervisionados identificaram cinco características no supervisor: mediador, líder, colaborativo, reflexivo e regulador. Foi compreendido o significado atribuído à figura do SP, relativamente às suas competências pessoais, assim como a articulação realizada entre a prática da supervisão pedagógica com a experiência profissional, incrementadas nas características de mediador, líder, colaborativo e reflexivo. Não houve coerência de opiniões na característica de supervisor regulador. Esta situação transporta-nos para a preocupação exposta inicialmente: a necessidade profícua e urgente da equidade. Os supervisionados consideram que aprendem, refletindo acerca das suas atuações, uma vez que o conhecimento também se adquire com a prática, em trabalho colaborativo entre pares e através das suas experiências profissionais, e que o papel de SP deve ter em conta uma conduta de interação dinâmica igualitária e sem sobrevalorizar hierarquias. O SP atua de forma diferenciada, ou seja, o supervisor deverá atribuir um sentido à sua ação integrada dentro de um determinado contexto (Alarcão & Tavares, 2010; Smyth, 1984; Bermúdez-Jaimes & Mendoza-Páez, 2008; Sá, 2017).